quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A Praga da Beleza e a Morte do Indivíduo



(Monalisa se fosse um zumbi da beleza dos dias de hoje)
-Feliz aniversário gata!Agora você vai ficar mais linda ainda! Dito isto, Eduardo estendeu um grande envelope vermelho com laços de fita.
-Jura, você comprou? Jura, jura, jura? Exclamou Ana saltitante.
Seis meses depois o namoro, que durou a eternidade de um ano (o que é muito para as relações amorosas hodiernas) o mesmo casal trava o curioso diálogo.
-Quero de volta!
-Não dou, você não pode tê-los de volta, já devolvi o anel, as flores, os livros, os discos e aquela manada idiota de bichos de pelúcia. Acabou, estou apaixonada pelo Roberto, já estou de aliança, olha!
-Quero meus peitos de volta! Não vou deixar qualquer vagabundo pegar no que é meu e paguei caro por isso. Gritou Eduardo.
Não, não é delírio deste que vos escreve, essa cena é real e aconteceu. É apenas um breve retrato do que tem acontecido nos últimos tempos na nossa zumbilândia. Sim, vivemos numa terra apinhada de zumbis não perceberam? Vou tentar explicar: A sociedade de massa elimina quase que completamente a possibilidade da raça humana de ter individualidade ditando-lhe o que comer, beber, vestir, o que ler, ver, e até mesmo a forma que você pode ou não ter.
Cria necessidades onde não há, constrói e reconstrói o que é belo através de violenta imposição de padrões de moda e beleza via a grande mídia, constrangendo, angustiando e levando pessoas de todas as idades à doentia busca de adequação, e como a objetivo é vender, a busca tem não tem fim. Nesse ponto, morre o indivíduo nasce o zumbi, e quem ousa ir contra a maré é hostilizado e não raro excluído.
Pessoas de todas as idades andam usando aparelhos dentários, jovens são vendidas pelos pais para passar fome e conseguiram "fama" sendo as esqueléticas modelos, agora se faz cirurgia plástica de verão, seres humanos se mutilando em nome da beleza.
A ditadura dos padrões elimina a indivíduo, mina sua personalidade e auto-estima deixam-se de se ter valor não pelo que você é, mas pelo que aparentas ser.
Bruce Willis já foi padrão de beleza dos anos oitenta e o homem sexy daquela década. Não obstante o ar canastrão, não teve escrúpulos de assumir o peso da idade, raspou o cabelo, deixou as rugas vir, e coroou essa "decadência" com muita dignidade no último filme, pouco visto, mas bem simbólico do que se tornou nossa sociedade: Os Substitutos. Nele, seres humanos de poder aquisitivo alto não saem mais de suas casas e se conectam a andróides que correspondem ao padrão de beleza vigente. Através deles os humanos trabalham, caminham e vivem "intensamente" a vida. Num dos trechos mais melancólicos do filme, o sessentão Willis implora a sua mulher que deixe o andróide de lado, declara que sente falta de sua esposa, idosa, com rugas e, sobretudo humana. Ela, na pele do andróide, mesmo sofrendo por dentro, recusa, e deixa-se levar pelo hedonismo a assumir o peso dos anos a degradação do que se chama "belo".
Pois é, mesmo os astros de cinema envelhecem e até mesmo morrem. Cuidar da saúde é bom, mas a obsessão pela beleza ditada pela mídia é doente, pobre e muito triste.
E cada vez mais deixamos de ser humanos, vivos, tornamo-nos zumbis, coisa.