quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Canção dos Elfos




À meia noite, quando os homens enfim dormem,
Então nos fulge a lua,
Então nos luz a estrela;
Jubilosos dançamos.

À meia noite, quando os homens enfim dormem,
Pelas planícies, entre os salgueiros,
Nosso espaço buscamos,
Vagamos e cantamos
E dançamos um sonho.

- Goethe

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A flor da grama



Apreciar a vida continuamente é como observar a grama crescendo, mudando de cor, mostrando sua semente e flor. Só fui ver a flor da grama quando tive que cuidar de um jardim. É assim, na maioria das vezes, só vemos certas coisas quando as circunstâncias nos impelem a tal. Se não precisamos olhar pro céu não nos damos conta das estrelas nem das constelações. Sabemos que existem, mas não nos interessa olhar. Um dia, quando passa a nos interessar, nos surpreendemos, sempre estiveram lá e não as vimos.
A grama cresce, alheia a tudo que há. Sem prescindir do nosso conhecimento, tampouco da nossa existência. Quantas coisas belas perdemos em nosso alienamento contínuo?

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Brasil, um paraíso pagão?

Fonte primária - http://cidadaniasagrada.wordpress.com/brasil-um-paraiso-pagao/
autora:

"Brasil, um paraíso pagão?"


Quando eu era criança, ensinaram-me na escola que o Brasil, o meu país, havia sido descoberto por acaso; que uma calmaria havia desviado as caravelas de Pedro Álvares Cabral em 1500 de sua rota para as Índias, e acidentalmente vieram aqueles bravos navegadores a “descobrir” o Brasil. Então esta terra gigantesca, com sua maior floresta do mundo (que era ainda maior antes de qualquer desmatamento), com seu maior rio do mundo e suas colossais cachoeiras, seu imenso litoral pontilhado de ilhas, tudo isso havia ficado completamente ignorado e desconhecido pelos civilizados europeus durante milênios. Até que em “um formoso e claro dia 22 de abril”, como dizia a canção escolar, por acaso, algumas naus portuguesas vieram parar aqui por falta de vento.

Também aprendi que a nova terra havia sido inicialmente confundida com uma ilha e batizada de Ilha de Vera Cruz. Como criança, entendi “batizada” literalmente, pois havia até um padre – Frei Henrique Soares – com missal, cruz e tudo, e até rezou a primeira missa no Brasil. Padre, sim, senhor – a mente simples de uma criança não compreende as diferenças sutis entre padre, frade, etc. Agora, o que um padre – ou frade, sei lá – estava fazendo no meio de um monte de marinheiros procurando uma rota comercial para as Índias, isso não ficou muito claro nas nossas cabecinhas. Mas a professora sabia muito, então devia ser isso mesmo. Talvez o padre também quisesse comprar canela, pimenta e noz-moscada. Segundo a professora, era isso que os marinheiros iam buscar lá nas Índias.

Mais tarde, ainda na escola primária, ensinaram-me que os primeiros portugueses que habitaram o Brasil não vieram por vontade própria: eram degredados, criminosos sentenciados ao exílio. Nós, brasileiros, éramos uma raça inferior, uma mistura de africanos subdesenvolvidos, índios preguiçosos e portugueses malfeitores expulsos de Portugal. Ainda me lembro do mal-estar que isso me causou, e também das carinhas tristes de meus colegas. Sentimos vergonha de sermos brasileiros.

Esse sentimento de humilhação foi aumentado pelos lançamentos de filmes e minisséries de quinta categoria, que mostravam a História do Brasil como uma sucessão de trapalhadas, cometidas por reis despreparados, medrosos e até mesmo glutões.

Às vezes sentia-me confusa quando me pegava admirando uma beleza natural ou histórica do Brasil, ou lendo alguma lenda indígena brasileira. Como algo tão bonito poderia pertencer a um povo pequeno, a uma terra maldita?

Cresci procurando esquecer essa herança; durante os anos de meu Ensino Médio e o início da faculdade, concentrei-me em estudar para me profissionalizar rápido. Às vezes, buscava nas religiões que conhecia um alívio para esse vazio interior. Mas tudo o que eu recebia era a idéia de que a Terra é um lugar imperfeito, triste, de provação; porque os seres humanos são imperfeitos, ou porque pecaram, e destituídos estão de qualquer glória, neste mundo terreno e triste. E assim, de religião em religião, eu ia me percebendo cada vez mais sem esperança.

E então, um dia, eu soube das antigas religiões pagãs. Aprendi que na Antiguidade o mundo material não era visto como uma coisa separada do mundo espiritual; que o divino estava na natureza, que tudo que existia era sagrado, inclusive nós mesmos, seres humanos.

Identifiquei-me imediatamente com essa visão, particularmente com o Druidismo. Passei a ler, buscar, estudar tudo o que dizia respeito a isso. E senti uma nova esperança crescer dentro de mim, como há anos eu não sentia.

Um dia, procurando uma palavra em um dicionário de mitologia celta, esbarrei acidentalmente com o verbete Brasil. Mal consegui acreditar no que via: segundo o dicionário, Brasil era uma ilha lendária da mitologia celta irlandesa, uma terra feérica, cheia de encantos, mistérios e fartura. E que o nome do país sul-americano Brasil poderia ou não ter se originado dessa ilha lendária.



Descobri que muitos historiadores já haviam mencionado essa teoria em seus estudos. Perguntei-me frustrada por que não nos ensinaram isso na escola também; e por que não nos deixaram a opção de acreditarmos no que quisésssemos…

Mais tarde, em cursos de pós-graduação, descobri que muitos degredados enviados por Portugal ao Brasil não eram criminosos comuns; eram na verdade pessoas que haviam sido consideradas perigosas por serem subversivas, ou condenadas pela Inquisição .Entre eles, indivíduos letrados como judeus e muçulmanos, e muitas mulheres acusadas de feitiçaria.

Também aprendi sobre os reinos ricos e desenvolvidos da África, sobre a complexa organização dos índios brasileiros e sobre o Império Ultramarino português, tão vasto que se estendia do Brasil até Nagasaki no Japão. Descobri que o Brasil teve três monarcas inteligentes, cultos e devotados, que fizeram uma diferença positiva na história e no destino do Brasil.

Então percebi que o Brasil era realmente uma terra maravilhosa, com um povo maravilhoso - um verdadeiro paraíso mitológico, com 11% da água potável do planeta, a maior floresta, o maior rio, um dos maiores litorais, e um solo tão fértil, que só poderia mesmo ser uma terra do Outro Mundo.

“A terra, em si, é de muito bons ares. Águas são muitas, infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem.”

(Carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal em 1500.)


Autora -

BANDRUIR – Estudou Comunicação Social (graduação), Relações Internacionais e História (pós-graduação especialização). Trabalha como professora de idiomas e tradutora, já tendo traduzido livros na área de História. É fundadora e diretora da GERGÓVIA Escola de Druidismo e Cultura Celta e da Ordem Druídica DRUNEMETON. Druidesa, praticante e pesquisadora de Paganismo desde 1986, com ênfase em magia druídica e cultura celta, já palestrou em diversos eventos religiosos pelo Brasil. Nas horas vagas, dedica-se ao estudo de plantas e a trabalho voluntário na Floresta da Tijuca, no RJ.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Algumas coisas tem significado, outras não - e este é o brilho da vida (?)

Lembro-me que, quando menino, em uma cidade do interior, os homens se reuniam após o jantar para constar casos. As estórias eram fantásticas, e todos sabiam disto. Mas nunca ouvi ninguém dizer ao outro: "Você esta mentindo". A reação apropriada a um caso fantástico era outra: "Mas isto não é nada". E o novo artista iniciava a construção de um outro objeto palavras. Faz pouco tempo que me dei conta de que, naquele jogo, o julgamento de verdade ou falsidade não entrava . Porque as coisas eram ditas não para significar algo. As coisas eram ditas a fim de construir objetos que podiam ser belos, fascinantes, engraçados grotescos fantásticos - mas nunca falsos.

(Rubem Alves - O que é religião)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Um classe geralmente construtiva

O que mais curto nos ateus é justamente o "efetivar-se enquanto uma classe construtiva" . . pelo menos em média; não dedicam seu tempo à atacar qualquer tipo de crença mas sim justamente aquelas que realmente devem (deveriam) ser atacadas e destruídas.


"Provavelmente o passo mais difícil a ser dado e o mais raramente visto pelo ateu, agnóstico, ou simplesmente pelo não-cristão seja não ser cristão. Não falo sobre o aspecto religioso propriamente dito, mas pelo cultural.

Alguns costumes e valores como casamento, fidelidade, honra, gratidão, caridade, respeito aos pais, deveres com os filhos e mais uma imensa lista de noções são aprendidas por nós, como inseridos nesta cultura, e raramente libertados, mesmo após a capitulação do conceito religioso, de sorte que não é raro ser visto como única diferença entre o católico comum e o ateu é o hábito de rezar, quando muito.

Do ponto de vista racional, os valores não têm muita razão de ser, não são justificados, embora alguns sejam justificáveis. Negar o cristianismo não significa negar absolutamente tudo o que é derivado da filosofia cristã, mas tudo o que não tem razão de ser. Como bem pretendia Bazárov, de Turguêniev, e Nietzsche no livro Aurora.

É fácil tomar de assalto exemplos de valores que em nível individual servem mais como empecilho do que como ferramenta de desenvolvimento. O egoísmo é um bom exemplo disso. Aliás, é um traço de caráter jamais condenado pelos gregos. O que pode haver de mais irracional do que não ser egoísta. Até Deus, nos moldes do cristianismo, é egoísta ao condenar todos os que não concordam com ele a Hades, como diria Max Stirner.

Mas não há nada de errado nisso, senão para os que são incapazes de enxergar a loucura da ação contrária. Quem pode cuidar tão bem de você quanto você mesmo? Quem fará algo substancial por você senão você mesmo? As respostas são óbvias, simplesmente porque todos são egoístas recalcados. Pudera não fossem!

O jargão que diz “o amor é uma troco” é acertadamente um conceito egoísta, pois a entrega só existe mediante recebimento. Só um tolo dá mais do que recebe, parafraseando Schopenhauer, seria um “mau negócio que não compensa o investimento”. Mas é justamente isso que o cristianismo prega ao contrário. Sim. Você deve dar sem olhar a quem, sem olhar retorno, em última instância, conforme-se em sair perdendo. Mas eles acabam voltando atrás ao dizer “que será dado o reino dos céus”, oras, então você dá porque receberá de Deus? Ou se Deus “dissesse” que é irrelevante mesmo assim você faria? Por que você faz senão para agradar a Deus?

Direta ou indiretamente, são seus problemas que importam, direta ou indiretamente, é contigo que você está preocupado. Então não questione o meu egoísmo, pois não preciso disfarçá-lo. Só quero que o que é meu gere frutos para mim, até a última instância."

fonte - http://multiplosuniversos.com.br/site/archives/cultura-crista


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Descendência Celta

Daniel Bradley: «Nom somos celtas, mas galegos/as»

Novo estudo, confirma as hipóteses mais arriscadas sobre a existência duma verdadeira unidade cultural na Europa Atlântica, desde o megalítismo, passando pelo período Celta até os nossos dias

Revista Portugaliza.- Neste segundo número da Revista Digital Portugaliza, que corresponde ao segundo semestre de 2005, X. M. Paredes, apresenta-nos as traduções do inglês de dous artigos jornalísticos de interesse (e actualidade) publicados recentemente nos jornais británicos The Herald e The Scotsman, que deitam luz sobre as velhas teorias sobre o celtismo e cultura atlântica europeia, nomeadamente sobre os vínculos entre a Galiza, Norte de Portugal, e os chamados «Países Celtas».
[+...]
O estudo, dirigido pelo professor Daniel Bradley do Trinity College Dublin, e publicado no «American Journal of Human Genetics», revela uma «estreita ligaçom das origens dos Celtas com as gentes da Galiza». A investigaçom apresentada polo Doutor Bradley, confirma as hipóteses duma migraçom maciça faz 3000 ou 6000 anos, desde o que hoje é a Galiza e parte de Portugal cara a Irlanda e Escócia. Descobrimento que viria a confirmar as teorias sobre a origem Galaica dos chamados povos Celtas.

Daniel Bradley explicou que sua equipe propunha uma origem muito mais antiga para as comunidades da costa do Atlântico: pelo menos 6000 anos atrás, ou até antes disso. Os grupos migratórios que deram origem aos povos celtas do norooeste europeu teriam saído da costa atlântica da península Ibérica nos finais da última Idade do Gelo e ocupada as terras recém libertadas da cobertura glacial no noroeste europeu, expandindo-se depois para as áreas continentais mais distantes do mar.

O geneticista Bryan Sykes confirma esta teoria no seu livro Blood of the Isles (2006), a partir de um estudo efectuado em 2006 pela equipe de geneticistas da Universidade de Oxford. O estudo analisou amostras de ADN recolhidas de 10.000 voluntários do Reino Unido e Irlanda, permitindo concluir que os celtas que habitaram estas terras, — escoceses, galeses e irlandeses —, eram descendentes dos celtas da península Ibérica que migraram para as ilhas Britânicas e Irlanda entre 4.000 e 5.000 a. C..

Outro geneticista da Universidade de Oxford, Stephen Oppenheimer, corrobora esta teoria no seu livro "The Origins of the British" (2006). Estes estudos levaram também à conclusão de que os primitivos celtas tiveram a sua origem não na Europa Central, mas entre os povos que se refugiaram na península Ibérica durante a última Idade do Gelo.

Estudos feitos na Universidade do País de Gales defendem que as inscrições encontradas em estelas no sudoeste dapenínsula Ibérica demonstram que os celtas do País de Gales vieram do sul de Portugal e do sudoeste de Espanha.

Fonte primária:http://novagaliza.blogspot.com/2006/10/daniel-bradley-nom-somos-celtas-mas.html

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A Praga da Beleza e a Morte do Indivíduo



(Monalisa se fosse um zumbi da beleza dos dias de hoje)
-Feliz aniversário gata!Agora você vai ficar mais linda ainda! Dito isto, Eduardo estendeu um grande envelope vermelho com laços de fita.
-Jura, você comprou? Jura, jura, jura? Exclamou Ana saltitante.
Seis meses depois o namoro, que durou a eternidade de um ano (o que é muito para as relações amorosas hodiernas) o mesmo casal trava o curioso diálogo.
-Quero de volta!
-Não dou, você não pode tê-los de volta, já devolvi o anel, as flores, os livros, os discos e aquela manada idiota de bichos de pelúcia. Acabou, estou apaixonada pelo Roberto, já estou de aliança, olha!
-Quero meus peitos de volta! Não vou deixar qualquer vagabundo pegar no que é meu e paguei caro por isso. Gritou Eduardo.
Não, não é delírio deste que vos escreve, essa cena é real e aconteceu. É apenas um breve retrato do que tem acontecido nos últimos tempos na nossa zumbilândia. Sim, vivemos numa terra apinhada de zumbis não perceberam? Vou tentar explicar: A sociedade de massa elimina quase que completamente a possibilidade da raça humana de ter individualidade ditando-lhe o que comer, beber, vestir, o que ler, ver, e até mesmo a forma que você pode ou não ter.
Cria necessidades onde não há, constrói e reconstrói o que é belo através de violenta imposição de padrões de moda e beleza via a grande mídia, constrangendo, angustiando e levando pessoas de todas as idades à doentia busca de adequação, e como a objetivo é vender, a busca tem não tem fim. Nesse ponto, morre o indivíduo nasce o zumbi, e quem ousa ir contra a maré é hostilizado e não raro excluído.
Pessoas de todas as idades andam usando aparelhos dentários, jovens são vendidas pelos pais para passar fome e conseguiram "fama" sendo as esqueléticas modelos, agora se faz cirurgia plástica de verão, seres humanos se mutilando em nome da beleza.
A ditadura dos padrões elimina a indivíduo, mina sua personalidade e auto-estima deixam-se de se ter valor não pelo que você é, mas pelo que aparentas ser.
Bruce Willis já foi padrão de beleza dos anos oitenta e o homem sexy daquela década. Não obstante o ar canastrão, não teve escrúpulos de assumir o peso da idade, raspou o cabelo, deixou as rugas vir, e coroou essa "decadência" com muita dignidade no último filme, pouco visto, mas bem simbólico do que se tornou nossa sociedade: Os Substitutos. Nele, seres humanos de poder aquisitivo alto não saem mais de suas casas e se conectam a andróides que correspondem ao padrão de beleza vigente. Através deles os humanos trabalham, caminham e vivem "intensamente" a vida. Num dos trechos mais melancólicos do filme, o sessentão Willis implora a sua mulher que deixe o andróide de lado, declara que sente falta de sua esposa, idosa, com rugas e, sobretudo humana. Ela, na pele do andróide, mesmo sofrendo por dentro, recusa, e deixa-se levar pelo hedonismo a assumir o peso dos anos a degradação do que se chama "belo".
Pois é, mesmo os astros de cinema envelhecem e até mesmo morrem. Cuidar da saúde é bom, mas a obsessão pela beleza ditada pela mídia é doente, pobre e muito triste.
E cada vez mais deixamos de ser humanos, vivos, tornamo-nos zumbis, coisa.